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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Economia

As campanhas salariais e a crise

Você é um trabalhador insatisfeito com seu salário. Talvez começando agora sua campanha salarial como os metalúrgicos, petroleiros, bancários, trabalhadores dos correios, operários da construção civil e muito outros. Está também vendo o noticiário sobre a crise internacional, e sabe que os patrões vão querer usar a crise para evitar dar aumentos.

O seu salário você conhece bem. Sabe que não chega até o final do mês, e que muitas vezes já está empenhado para pagar contas ou empréstimos. Sabe também por experiência própria que entre você e os patrões não existe uma "família", como eles dizem. Falam isso para disfarçar os seus interesses, contrários aos dos trabalhadores. O capitalismo vive para aumentar o lucro das empresas, e seus lucros aumentam quando nossos salários diminuem. Quando nós falamos em aumentar nossos salários, eles se enfurecem porque isso reduz seus lucros.

Agora os patrões vão tentar utilizar a crise econômica internacional para justificar não dar aumentos salariais. Mas o Brasil segue crescendo, com uma previsão de 4% de aumento do PIB em 2011. A produtividade das empresas aumentou, nosso ritmo de trabalho é infernal. Não existe nenhuma justificativa para não aumentar os salários.

Você sabe que só com a luta podemos conquistar reajustes em nossos salários. Isso já representa um acordo importante entre nós. Vão vir representantes da CUT e da Força Sindical com uma conversa fiada de "pacto social contra a crise", de aliança com os patrões para "evitar a desindustrialização". Não existe acordo ou pacto com os empresários que signifique melhora em nossas vidas. A razão é simples: para os patrões, interessa que ganhemos cada vez menos.

As grandes empresas são as que estão melhor preparadas para enfrentar as crises. Em primeiro lugar porque têm altíssimos lucros. O crescimento econômico do Brasil está sendo completamente absorvido pelos patrões. Um estudo do Ilaese (Instituto Latino-americano de Estudos Sócioeconômicos) mostra que cada um dos trabalhadores das 500 maiores empresas do país gerou um lucro anual de 452 mil dólares, ou seja, quase meio milhão de dólares. Basta comparar isso com o que ganham os trabalhadores para ver como a riqueza de alguns poucos significa o sofrimento da maioria. Os metalúrgicos da GM recebem só o equivalente a 8% do faturamento dessa empresa. Os operários da construção civil só recebem 6% do faturamento. Os trabalhadores têm todo o direito de reivindicar uma parte digna dos frutos de seu trabalho.

Dilma é uma aliada?
Mas é importante falar sobre outro tema. Para você, a luta é só contra os patrões, porque você acha que tem Dilma como aliada. Será mesmo?

O governo tem inúmeras maneiras de pressionar uma empresa, porque é quem decide o rumo dos empréstimos dos bancos estatais, assim como os subsídios. Não existiu, nos oito anos de mandato de Lula ou agora com Dilma, nenhum episódio de pressão do governo sobre uma empresa em defesa de uma greve.

Pode ser que você ache que Dilma não tenha nada a ver com a definição dos salários. Não é bem assim. A política econômica aplicada no país hoje é definida pelo governo, no caso agora por Dilma. Por exemplo, foi Dilma quem impôs o reajuste atual do salário mínimo - 1,3% abaixo da inflação do período. Ou seja, a principal determinação salarial do país (o salário mínimo) foi realizada diretamente por Dilma, e impôs um arrocho que não tinha sido visto em nenhum dos governos Lula e mesmo com FHC.

O governo, nesse momento, está divulgando que os trabalhadores não devem se engajar em lutas salariais porque isso aumentaria a inflação. No entanto, os reajustes são apenas uma forma de reivindicar de volta o que a inflação já nos levou. Portanto, não causam inflação; são uma defesa contra a inflação. Se os trabalhadores seguirem a posição de Dilma, ficarão sem nenhuma defesa contra a inflação.

Agora Dilma vai se preocupar com os reflexos da crise sobre as grandes empresas. Já entregou 25 bilhões de reais para as empresas em subsídios e redução de impostos. Não anunciou nada para defender os salários e proteger os empregos dos trabalhadores.

É muito importante que possamos lutar juntos contra os patrões. As grandes empresas são as responsáveis pela crise. São elas as que têm se beneficiado até agora do crescimento econômico. São elas que devem pagar as conseqüências da crise.

Devemos também exigir junto ao governo Dilma que se faça um reajuste automático dos salários, toda vez que a inflação atingir 2%. E que garanta a estabilidade no emprego do conjunto dos trabalhadores.

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