Diego Cruz, de São Paulo
No mesmo dia em que o governo reafirmou seu otimismo em relação ao crescimento da economia em 2010, anunciou também um novo corte nos gastos públicos e maior aperto da política fiscal.
A parte do discurso otimista ficou a cargo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, convidado à reunião nacional da direção da CUT, em Brasília, nesse dia 12 de maio. Jogando para a plateia, o ministro desfiou previsões como o de crescimento de até 6% do PIB este ano. Mesmo reconhecendo que 2 bilhões de dólares saíram do país durante a crise financeira, Mantega afirmou que o Brasil está agora mais “preparado”.
Isso porque o país contaria com o menor déficit nas contas entre os países do G20, posição conquistada após sucessivos cortes e políticas de superávit primário herdada do governo FHC. “Quem diria que o governo do presidente Lula poderia gerar melhor desempenho fiscal que os governos anteriores?”, perguntou aos sindicalistas. Pergunta que poderia ser traduzida como: quem diria que Lula aplicaria uma política neoliberal mais radical que os governos anteriores?
Mais cortes
A poucos metros dali, outro ministro ficou com a parte menos simpática. Paulo Bernardo, o dono da pasta do Planejamento, anunciava mais cortes este ano nos gastos do governo. No início do ano o governo já havia “contingenciado”, um eufemismo para os cortes, R$ 21 bilhões. Agora, em entrevista ao Estadão, Bernardo disse que os novos cortes serão necessários para evitar um crescimento muito acelerado da economia e a inflação que esse “risco” embutiria. “Vamos tentar fazer o menos dolorido possível, mas vai doer”, avisou.
O ministro relatou uma reunião entre Lula e os principais ministros, em que o governo teria detectado o perigo da inflação com o atual aquecimento da economia. Isto é, o aumento do consumo se dando num ritmo maior que a produção causaria uma elevação nos preços, o que forçaria o Banco Central a elevar ainda mais os juros no futuro, causando um dano ainda maior. O aperto fiscal seria, nessa lógica, um “mal menor”.
No dia seguinte ao evento da CUT, Mantega detalhou que o corte pode chegar a R$ 10 bilhões. Ou seja, se o governo Lula cortava gastos no início de seu mandato por causa da economia estagnada, agora impõe um arrocho sob o pretexto de um suposto crescimento desordenado.
A verdadeira razão para tal política, porém, aparece na própria fala do ministro Paulo Bernardo. Segundo ele, “com a crise internacional, temos de ficar mais atentos”.
Isso significa que, diante do temor dos investidores com a crise na Europa, o Brasil deve reforçar sua credibilidade junto aos credores da dívida pública. E demonstrar que vai cumprir com folga a meta de superávit primário, de 3% do PIB.
Servidores resistem
Faz parte dessa orientação o recente anúncio realizado pelo próprio Paulo Bernardo, de que o governo rejeitaria qualquer reivindicação de reajuste dos servidores públicos e mais, que cortaria o ponto dos eventuais grevistas. ”Se houver greve, a orientação é anotar a freqüência, descontar os dias parados e ir aos tribunais para que as greves sejam decretadas ilegais”, ameaçou.
Os servidores públicos, porém, resistem e não abandonam a mobilização. Funcionários de setores como o Ministério do Trabalho e Meio Ambiente, além de servidores da Justiça Federal, estão cruzando os braços por salários, Planos de Carreira e contra o desmonte dos serviços públicos. Nesse dia 12 houve uma dupla vitória. O projeto que determina o congelamento nos salários dos servidores por 10 anos foi rejeitado por uma comissão da Câmara. E na Justiça, a greve do Ibama teve sua ilegalidade rejeitada.
As recentes declarações do governo, porém, indicam uma nova ofensiva autoritária contra as greves e mobilizações. Um lembrete de que a Europa não está, afinal, tão longe.
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