Projeto do Acordo Coletivo Especial (ACE) reduz direitos dos trabalhadores
Os trabalhadores brasileiros estão
diante de nova tentativa de redução de direitos. Recentemente, o Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC (SMABC), ligado à CUT, apresentou ao Congresso Nacional o
Acordo Coletivo Especial (ACE), um anteprojeto de lei que pretende modificar a
legislação trabalhista.
De acordo com o sindicato, as leis
trabalhistas emperram os acordos com as empresas. Por isso, é preciso facilitar
esses processos negociais. Em síntese, a proposta pretende que o negociado
prevaleça sobre o legislado, ou seja, que os sindicatos possam fechar acordos
com as empresas que valham sobre os direitos contidos na Convenção Coletiva do
Trabalho (CLT).
As conseqüências
Dessa forma, se aprovada esta proposta,
estariam legalizados acordos que, por exemplo, permitem a divisão das férias em
mais de dois períodos; o pagamento parcelado do 13º salário, até mesmo em
parcelas mensais; a ampliação do banco de horas sem limites; contratação
temporária e a terceirização dentro das empresas sem nenhum limite; além de
outras manobras.
O sindicato poderia argumentar que estes acordos dependeriam de aprovação dos trabalhadores. Verdade. Mas quem não conhece o poder de chantagem das empresas sobre seus empregados, em particular nos momentos de crise econômica? Qual dirigente sindical no setor privado nunca se enfrentou com uma situação em que a empresa propunha “reduzir salário ou demitir trabalhadores”? Como pode o trabalhador decidir livremente nesta situação? Com este anteprojeto aprovado, esses acordos estariam referendados por lei.
O sindicato poderia argumentar que estes acordos dependeriam de aprovação dos trabalhadores. Verdade. Mas quem não conhece o poder de chantagem das empresas sobre seus empregados, em particular nos momentos de crise econômica? Qual dirigente sindical no setor privado nunca se enfrentou com uma situação em que a empresa propunha “reduzir salário ou demitir trabalhadores”? Como pode o trabalhador decidir livremente nesta situação? Com este anteprojeto aprovado, esses acordos estariam referendados por lei.
Antitrabalhador
A base dessa proposta é a mesma que
propôs a mudança do artigo 618 da Convenção Coletiva do Trabalho, no segundo
mandato do governo Fernando Henrique, para que prevalecesse o negociado sobre o
legislado. Naquele período, o movimento sindical foi para as ruas e conseguiu
impedir essa mudança. Em 2005, foi a vez do então presidente Lula apresentar
basicamente a mesma reforma trabalhista. Mas o caráter antitrabalhador ficou
configurado naquela política e novamente foi barrada pela resistência dos
trabalhadores.
Na perspectiva das empresas
É preciso entender o contexto em que
esta proposta é apresentada. Uma das consequências da crise na economia
capitalista que se iniciou em 2007 é a queda de lucratividade das grandes corporações.
O caminho que essas empresas têm para solucionar este problema é justamente
buscar medidas que promovam a redução de custos para que haja novo aumento de
lucratividade. A eliminação ou redução de benefícios e direitos dos
trabalhadores é a alternativa mais comum de redução de custos buscada pelas
empresas. Mas, para isso, os direitos trabalhistas não podem estar contidos em
lei. Os direitos precisam ser flexibilizados ou reduzidos.
Parceria empresa e sindicato
O ACE cria as condições para a
flexibilização necessária da legislação trabalhista através da negociação
coletiva, de forma que se possa fazer concessões às políticas de redução de
custos das empresas. Por isso, é bem recebido pelo governo e pelo empresariado.
Na realidade, defender mudanças na CLT
implica em apontar a necessidade de fortalecer a representação sindical no
local de trabalho por meio do estabelecimento em lei da proteção contra a
demissão imotivada. Ou seja, a adoção da convenção 158 da OIT, já que sem isso é
pura mentira falar em liberdade sindical ou liberdade de negociação. Enquanto
não houver a proteção contra demissão imotivada, apenas se poderá falar em
liberdade de atuação sindical ou de negociação para os dirigentes sindicais,
mas não para os trabalhadores.
Outro exemplo é a necessidade de se
assegurar proteção legal ao direito de organização no local de trabalho, do
qual pelo menos os trabalhadores da iniciativa privada estão excluídos. Estes,
sim, seriam avanços importantes nas relações trabalhistas.
É preciso resistir
Por isso, o Acordo Coletivo Especial é
sim um ataque aos direitos dos trabalhadores. Com o objetivo de barrar esse
ataque, a CSP-Conlutas, juntamente com outras entidades, convoca uma ampla
campanha contra a aprovação do ACE pelo Congresso Nacional. Debates,
seminários, abaixo-assinado, campanha nos locais de trabalho estão sendo
realizados. Também estamos preparando um seminário nacional em Brasília no dia
7 de novembro, quando, em seguida, será entregue o abaixo-assinado a parlamentares
e governo. Essas são as primeiras iniciativas em defesa dos direitos
trabalhistas contra o ACE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário