Socialismo ou catástrofe ambiental?
Por Gilberto Marques, de Belém (PA)O relatório de 2001 do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) concluiu que “a humanidade vem saqueando a terra”. A conclusão foi feita depois da constatação da elevação da temperatura terrestre e dos problemas ambientais, provocados pela emissão crescente de gases poluentes na atmosfera.
Qual o caminho a seguir no debate sobre o meio ambiente?
Desde o final dos anos 1960, abriu-se uma forte discussão sobre a problemática ambiental e as medidas para sua solução. O relatório do Clube de Roma e a Conferência de Estocolmo, ambos de 1972, defenderam que se deveria limitar o crescimento econômico. Em 1973, o diretor de meio ambiente da ONU, Maurice Strong, apresentou o conceito de ecodesenvolvimento que subsidiou a elaboração das propostas de desenvolvimento sustentável: crescimento econômico com preservação ambiental e solidariedade entre os países.
Outros encontros mundiais foram realizados, como o Eco 92, no Rio de Janeiro, e documentos assinados: o relatório de Brundtland da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Protocolo de Kioto para redução da emissão de gases poluentes. Propostas reformistas, insuficientes para resolver o desequilíbrio ecológico mundial. Kioto sequer foi aceito pelos Estados Unidos, nação responsável por grande parte da devastação.
Para compreendermos o fracasso dessas propostas, é preciso entender a lógica da produção capitalista. A maioria da população não dispõe dos meios de produção para a sua manutenção. Para não morrer de fome, tem de vender sua força de trabalho e receber em troca apenas uma parte da riqueza que produziu. Isso possibilita o lucro do capitalista e a miséria para a ampla maioria da população mundial.
Para aumentar seus lucros, o capitalista tem de aumentar cada vez mais sua produção e fazer com que as pessoas consumam cada dia mais. A corrida intransigente pelo lucro leva a uma universalização crescente das necessidades, que se traduz em consumo crescente e apropriação acelerada da natureza. Isso faz com que o ritmo da produção supere em muito o ritmo da natureza em se recompor.
Assim, não é a humanidade que está saqueando a natureza. Fundamentalmente, a burguesia saqueia o meio ambiente e seu principal componente, o trabalhador. É por isso que 862 milhões de pessoas passam fome permanentemente, sendo que em situações de crise os famintos chegam a dois bilhões.
Amazônia, desenvolvimento sustentável e capitalismo
É possível haver desenvolvimento sustentável no capitalismo? E solidariedade verdadeira entre países imperialistas e subdesenvolvidos? Vejamos essas questões analisando o caso amazônico.
Uma área maior que a França já foi derrubada na Amazônia, o que leva alguns cientistas a afirmar que a floresta pode desaparecer em 30 ou 40 anos. Segundo o Inpe, entre agosto de 2007 e julho de 2008 o desmatamento na Amazônia foi de 11.968 quilômetros quadrados. Diante disso, Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, afirmou que, “ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia pertence a todos nós”. Já o jornal britânico The Independent escreveu que “a Amazônia é muito importante para ser deixada com os brasileiros”.
As atividades que mais desmatam são aquelas relacionadas com pecuária, soja e madeireiras. Qual o destino dessa produção? O envio como produto de exportação para abastecer o mercado mundial. A soja plantada no norte do Mato Grosso e no sul do Pará serve de ração para o gado europeu, ou seja, os países ditos ecologicamente corretos criam seus gados confinados porque são alimentados com a soja que derruba as árvores da Amazônia.
As grandes multinacionais da mineração estão explorando em ritmo assustador as imensas reservas minerais da região e os principais laboratórios farmacêuticos mundiais extraem a biodiversidade amazônica para produzir seus produtos. Enquanto o presidente Lula faz discursos críticos sobre a devastação, seu governo continua apoiando financeiramente o agronegócio e as multinacionais mineradoras.
Socialismo e meio ambiente
O capitalismo é ecologicamente insustentável. O padrão das sociedades industriais imperialistas, seu consumo e sua produção destroem a multiplicidade das espécies, fazendo com que o ambiente natural, ao se tornar mais uniforme e menos articulado, se apresente mais sensível a choques externos, o que pode fazer desaparecer o sistema como um todo.
A crise econômica mundial desnudou ainda mais esse modo de produção. Segundo um estudo do governo britânico, seriam necessários US$ 540 bilhões para controlar a emissão dos gases que produzem o efeito estufa. “Não há dinheiro para isso”, é o que dizem os governos imperialistas. Mas apenas na semana de 12 a 18 de outubro de 2008 eles injetaram US$ 4 trilhões para salvar empresas e bancos.
Por isso, não basta defender a preservação sem ter claro que as questões ambientais só podem ser verdadeiramente compreendidas no plano da luta de classes e antiimperialista. No capitalismo, reformas parciais são totalmente insuficientes, mesmo do ponto de vista ambiental. O dilema entre socialismo ou barbárie vale também para a problemática ambiental.
O fim da exploração irracional dos recursos do planeta só pode ser alcançado por um mundo socialista, baseado na propriedade social dos meios de produção e no planejamento econômico que garanta a racionalização da exploração dos recursos do planeta. A revolução socialista não é nossa única possibilidade, mas é a única chance de salvar a vida humana e o meio ambiente.