À BEIRA DO CAOS
As escolas de Ceará-Mirim/RN estão pedindo socorro. Falta merenda, as salas de aula estão caindo aos pedaços e algumas não possuem nem mesmo luz elétrica.
Os prédios parecem casas abandonadas. Muitas janelas e ventiladores estão quebrados, as salas são escuras, algumas até funcionam sem luz e as paredes estão cheias de infiltração e mofo. Há escolas, inclusive, em que água encanada ainda é um mistério.
Qualquer pessoa em sã consciência diria que locais nestas condições não poderiam abrigar nenhuma escola. Mas não é assim que pensa o prefeito de Ceará-Mirim/RN, Antônio Peixoto (PR). Pelo menos é o que demonstra a falta de ação da Prefeitura. O abandono é tão grande que não seria demais afirmar que as condições da educação no município são parecidas com as da Idade Média.
Retrato do descaso
A Escola Municipal Antônio Ferreira da Silva, localizada na Comunidade de Ponta do Mato, é provavelmente um dos mais escandalosos casos de abandono da educação.
Em visita à escola, a direção do Sinte de Ceará-Mirim constatou diversos problemas, entre eles a ausência de salas de aula, merenda e até água encanada. Na verdade, o prédio inteiro funciona sem as condições mínimas de higiene e infra-estrutura.
No período da tarde, as crianças do 5º ano assistem aula numa espécie de pátio, com um pequeno quadro negro em cima de duas cadeiras. Como não há paredes, foram colocados tecidos ao redor do pátio para que o sol não entre. Além disso, nesta sala de aula improvisada estudam mais de 40 alunos, quantidade que está acima do que prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
“Alunos já merendaram apenas três biscoitos”, diz professor
A péssima qualidade da merenda e até mesmo a falta dela são outros problemas constantes. De acordo com um professor da mesma escola Antônio Ferreira da Silva, é comum não ter merenda para os alunos. “Quase sempre falta merenda aqui. E quando há é muito ruim. Os alunos reclamam bastante, e com razão. Eles já chegaram a merendar apenas três biscoitos aqui.”, desabafou o professor.
Não bastasse estar caindo aos pedaços, a Escola Antônio Ferreira da Silva ainda sofre com a ausência de água encanada no prédio. A água usada para beber e cozinhar vem de caixas d'água que são abastecidas por um caminhão pipa. Detalhe: a água é suja.
Mantendo estas condições, o prefeito Antônio Peixoto põe em risco a saúde das crianças da escola, onde os mesmos problemas se arrastam há anos. “Eu trabalho aqui há vinte e três anos e esses problemas nunca foram resolvidos. As crianças estudam e os funcionários trabalham sem as condições mínimas de higiene e estrutura. As descargas dos banheiros, por exemplo, não funcionam. Eu é que tenho que levar água num balde todos os dias para dar descarga.”, revelou uma funcionária, que não quis se identificar.
Situação de caos é comum em várias escolas O abandono da educação de Ceará-Mirim não se resume ao caos da Escola Antônio Ferreira da Silva. A maioria das escolas enfrenta uma situação semelhante. A direção do sindicato visitou todas as unidades de ensino no município e constatou que falta de merenda e péssima infra-estrutura são problemas comuns.
Segundo denúncias de um grupo de professoras, na Escola Municipal Gonçalo Teixeira, em Lagoa Grande, a merenda oferecida aos alunos é de qualidade para lá de duvidosa, isso quando não falta. “Já vi insetos dentro da comida servida e é comum ver gatos circulando pelas dependências do prédio, inclusive na cozinha.”, afirmou uma professora. Para piorar as condições de higiene, ao lado da escola há uma grande quantidade de lixo, que pode atrair ratos, baratas e doenças.
Na comunidade de Sítio Raposa, os ventiladores e as lâmpadas da Escola Municipal Felipe Camarão não funcionam, as janelas estão quebradas e o telhado cheio de goteiras. Uma das professoras da escola contou o que acontece quando chove: “Aqui, quando chove, pinga tudo, enche a sala de água, vira uma lagoa. Todo mundo tem que sair. Não tem nada de bom nessa escola.”. O descaso da Prefeitura é tão grande que nesta mesma escola existe um grupo de crianças que estudam numa sala bem apertada, onde não há luz elétrica há dois anos.
Nas Escolas Municipais Gonçalo Marcelino, em Oitizeiro, e José Venâncio, em Várzea de Dentro, os problemas de estrutura se repetem. A primeira estava fechada desde 2009 para obras, que ainda não terminaram. A comunidade reivindicou e a Prefeitura reabriu a escola. Hoje, ela funciona sem refeitório e com um esgoto a céu aberto nos fundos do prédio. Em Várzea de Dentro, a escola está com as janelas quebradas e as salas sem iluminação.
Sinte de Ceará-Mirim culpa prefeito pelo abandono
Essa não é a primeira vez que o Sinte de Ceará-Mirim denuncia as condições das escolas do município. Em março desse ano, o sindicato mostrou em seu jornal o caos vivido pela educação. Na ocasião, o próprio prefeito Antônio Peixoto admitiu em audiência que “as escolas não têm condições de funcionamento”. Entretanto, cinco meses depois nada foi feito.
Quando era candidato, Antônio Peixoto prometeu reformar as escolas e oferecer educação de qualidade para a população. Os trabalhadores e os estudantes lembram-se da promessa, mas o prefeito não cumpriu com o prometido. O resultado é o completo abandono das escolas.
“A falta de estrutura, merenda e condições de trabalho são as formas que Peixoto encontrou para fazer educação em Ceará-Mirim. É esse o tratamento que os filhos dos trabalhadores recebem da Prefeitura. É preciso unificar a população e os servidores para enfrentar essa situação e exigir mudanças. Nós é que fazemos a educação e merecemos respeito. A Prefeitura tem, sim, dinheiro para reformar todas as escolas.”, disse Zé Roberto, do Sinte.