Fim da parceria no programa Mais Médicos pode desestruturar um quarto das equipes da Estratégia de Saúde da Família em Mossoró, e deixar municípios potiguares sem médico algum |
Mossoró já pode sentir os efeitos da política externa do governo Bolsonaro: com o fim do acordo com o governo cubano, a cidade irá perder ao menos 14 (catorze) médicos. A medida pode afetar até 25% das equipes da Estratégia da Saúde da Família do município, e mais da metade de todos os médicos que atendem no programa Estratégia de Saúde da Família (ESF) no estado do Rio Grande do Norte. Com dados da SESAP-RN, 142 médicos cubanos atuavam em 67 municípios do RN. Pelo menos 4 (quatro) municípios potiguares vão ficar com médico nenhum: Jardim de Seridó, Riacho de Santana, Venha-Ver e Santa Cruz.
O fim do
acordo do Brasil com Cuba no programa “Mais Médicos” ocorreu pela imposição do
novo governo brasileiro de novas exigências aos profissionais cubanos que já
atuavam há quase 4 (quatro) anos, integrando a assistência do SUS nos confins
do país: "O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, com referências
diretas, depreciativas e ameaçadoras à presença de nossos médicos, declarou e
reiterou que modificará os termos e condições do Programa Mais Médicos, com
desrespeito à Organização Pan-Americana da Saúde e o que foi acordado com Cuba
", diz a nota do Ministério da Saúde de Cuba.
Através de comunicado da Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), o governo cubano declarou que que as exigências
feitas pelo governo eleito são “inaceitáveis” e “violam” acordos anteriores,
além de depreciar a capacidade e desqualificar os profissionais que já atuavam há
pelo menos quatro anos no país: “não é aceitável questionar a dignidade, o
profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos”. Cerca de 8.332 vagas
de médicos são ocupadas por esses profissionais, em sua maioria em municípios
longínquos, com dificuldades reiteradas em contratar médicos brasileiros.
A medida foi considerada
de viés ideológico, o que pode ser ressaltado pela declaração posterior de
Bolsonaro, que se referia à “ditadura cubana”. A antipatia de Bolsonaro pelo
povo cubano restou transparente em diversos momentos de campanha e está agora materializando-se
em medidas de governo. Já desqualificou os profissionais dos Mais Médicos,
afirmando que "Não
temos qualquer comprovação que eles sejam realmente médicos e sejam aptos a
desempenhar sua função". Em outra ocasião, afirmou que os médicos cubanos
deveriam ser obrigados a trazer sua família para o país como condição para o
trabalho.
A Confederação Nacional dos Municípios desaprovou a decisão e pediu a manutenção
do programa. O documento emitido ressalta a preocupação dos prefeitos
das cidades com menos de 20 mil habitantes com a saída dos 8,5 mil
profissionais cubanos que atuam no programa Mais Médicos. A entidade alerta que
é preciso substituí-los sob o risco de mais de 28 milhões de pessoas ficarem desassistidas.